A hiperflexão do pescoço do Cavalo
Texto: Dr. Henrique Cruz
Uma equipa de investigadores da Universidade de Medicina Veterinária de Viena, publicou recentemente um estudo em que comparou os níveis de stress induzidos em cavalos que trabalhavam com dois métodos diferentes de flexão do pescoço. Surpreendentemente não foi encontrada grande diferença nos resultados.
Foram estudados 16 cavalos a trabalhar à guia e compararam-se os níveis de stress nos animais quando trabalhavam com o pescoço estendido para diante e quando tinham o pescoço fixo numa posição de flexão exagerada (hiperflexão).
O nível de stress foi avaliado através da medição de cortisol presente na saliva dos animais, contagem da frequência cardíaca e respetiva variação antes, durante e após o exercício físico. Além disso, tambem foi avaliada a temperatura da superfície corporal antes e depois do exercício. Nenhum animal sofreu qualquer tipo de desconforto óbvio durante o treino, o qual foi realizado sem ajuda de chicote. Verificou-se um aumento do cortisol na saliva, um aumento da frequência cardíaca e redução da variabilidade na frequência cardíaca quando os cavalos eram treinados. Estas alterações provavelmente são devidas a uma combinação da atividade física e respostas normais de stress. O nível de stress verificado nos animais durante este estudo não foi particularmente elevado. De facto, as alterações no nível de cortisol na saliva foram menores neste estudo do que noutro estudo que avaliou os níveis de cortisol em cavalos durante o transporte ou quando eram montados pela primeira vez. A conclusão mais importante deste estudo foi que os efeitos foram os mesmos, independentemente do trabalho à guia ter sido realizado com o pescoço em hiperflexão ou estendido numa posição mais clássica ou tradicional. A única diferença significativa observada foi uma ligeira redução da temperatura na parte anterior do pescoço durante o trabalho em hiperflexão o que pode sugerir que a circulação sanguínea esteja alterada com esta posição.
Tirando esta pequena diferença, os resultados deste estudo demonstraram que a hiperflexão do pescoço em cavalos passados à guia, em andamentos de velocidade moderada e sem o uso de chicote, não induz uma resposta de stress pronunciado. Os investigadores concluíram que não existe nenhuma razão científica para banir o recurso à hiperflexão do pescoço.
Porém os investigadores reiteraram que apesar de este estudo ter revelado que a hiperflexão por si só não afeta os animais, por vezes alguns treinadores ou cavaleiros combinam a hiperflexão do pescoço com uma intervenção forçada e agressiva do cavaleiro por períodos de tempo prolongados. Esta situação é completamente diferente da que foi investigada neste estudo pelo que não se pode concluir que a hiperflexão do pescoço não tenha nunca efeitos negativos ou stressantes para o cavalo.