Portugal “já ganhou” a participação equestre dos Jogos Olímpicos Pequim 2008, ao conseguir, 56 anos depois, voltar a colocar a equipa de ensino (dressage)na competição olímpica, dizem os cavaleiros lusos presentes no evento.
Os irmãos Carlos e Daniel Pinto e Miguel Ralão são os olímpicos portugueses que vão competir nas provas equestres de Hong Kong e, a 10 dias do seu início, já passam grande parte do tempo junto dos cavalos e dos tratadores, sob o olhar atento do veterinário Bruno Miranda.
As atenções dos primeiros dias de estada em Hong Kong estão concentradas nas adaptações de Oxális da Meia Lua, a égua de Miguel Ralão, Galopin de La Font, de Daniel Pinto, e Notável Puy du Fou, de Carlos Pinto.
Dos três animais, apenas o Galopin esteve até hoje (03/08) a cumprir o passeio diário de várias horas com os tratadores devido a uma dermatite alérgica no sítio da sela, que Bruno Miranda preferiu ver bem curada para não prejudicar o animal para as provas.
“De resto tudo bem”, dizem os cavaleiros olímpicos portugueses, destacando-se Daniel Pinto para sublinhar que as instalações de Sha Tin, na zona dos Novos Territórios de Hong Kong, onde vão decorrer as provas, são das melhores do Mundo.
Com a calor ainda a fazer-se sentir na rua, os cavalos estão fechados em boxes climatizadas e, depois dos habituais e constantes passeios com os tratadores ou mesmo com os atletas, podem “refrescar-se” numa zona especialmente desenhada para eles, com ventoínhas onde é injectada água fria.
Os três cavalos lusitanos chegaram e estão bem. Além da dematite alérgica do cavalo de Daniel Pinto, a adaptação dos três animais foi boa e “não há qualquer problema”.
Agora é só esperar pelo sorteio do dia 11, iniciar as provas a 13 e aguardar que algum dos cavaleiros possa prolongar a competição para as meias-finais de 16 de Agosto.
“Não é fácil”, dizem todos os cavaleiros, sem esconderem, contudo, que na alta competição “tudo é possível, embora difícil”, estando dependente também do que acontecer aos outros.
A disputarem o grande prémio de ensino (dressage) para o meio da tabela, os cavaleiros pretendem, para já, “pontuar” aos melhores níveis do que fizeram recentemente – entre os 60 e os 70 por cento -, e Daniel Pinto lembra que só a partir de agora podem começar a exigir mais dos cavalos.
“Nos primeiros três anos de grande prémio andamos a ensinar os cavalos para fazerem os exercícios bem e sem pressão e só a partir do quarto ou quinto ano – nenhum dos cavalos está na competição há cinco anos – é que podemos começar a exigir mais do animal”, disse.
“Mas eu que não tenho nada a perder vou tentar exigir mais do meu cavalo e quando digo exigir mais é na expressão do animal”, disse Daniel Pinto, o único que na noite de sábado não selou o seu cavalo devido ao problema que este tem.
Por seu turno, Carlos Pinto sublinhou que “a perspectiva para Portugal é de futuro, é de continuar a trabalhar, manter e preparar uma equipa e incentivar os mais novos”.
A promoverem o cavalo lusitano – animal usado também por outros dois cavaleiros estrangeiros nos Jogos -, os cavaleiros portugueses só treinam, como a maioria, à noite, no mesmo horário das provas, que, devido ao calor, foram marcadas para o período nocturno.
Sempre ao lado dos cavaleiros está Manuel Bandeira de Mello, secretário-geral da Federação Equestre Portuguesa.
“Hoje temos cerca de 5.000 associados, quando, em 2001 não ia além de 2.200. Vamos continuar a trabalhar para promover a modalidade, para incentivar as pessoas e criar condições para o futuro da equitação em Portugal”, referiu Bandeira de Mello.
Salientando que a alta competição equestre “não é barata”, defende, mesmo assim, a continuação da aposta na modalidade, “incentivar e apoiar” os mais novos como Boaventura Freire, que recentemente conquistou o terceiro lugar no Europeu de Portugal e que pode vir a ser cavaleiro olímpico em Londres.
“Temos de trabalhar, continuar a trabalhar para ir subindo o ranking dos cavaleiros e da presença portuguesa”, concluiu.