Uma técnica inovadora em Portugal disponibiliza uma terapia com cavalos que, de uma forma livre, ensina as famílias a ser mais harmoniosas, colegas desavindos a entenderem-se no trabalho, chefes e até políticos a transformarem-se em líderes respeitados.
«Os cavalos não mentem. Não conseguem fingir. A sua reação – ou da manada – é o espelho do comportamento do homem, obrigando este a confrontar-se com problemáticas de que, às vezes, nem sequer tinha consciência», explicou à agência Lusa a terapeuta Nathalie Durel.
Esta psicóloga clínica encontrou a técnica com cavalos na procura de ferramentas que lhe permitissem melhores resultados nesta área.
Com os equinos, garante, obtém resultados em cinco sessões semelhantes ao que alcançaria com 25 de psicoterapia clássica, com preços idênticos às consultas convencionais.
Na área da saúde mental, têm-se obtido resultados «muito bons», assegurou, dando como exemplo uma pessoa deprimida, que se encontra apática e, quando frente a frente com o equino, este vai espelhar o seu estado.
O cavalo poderá fugir da pessoa e esta percebe que «nem o cavalo a suporta», afastando-se tal como a família, os filhos, os amigos ou os colegas de trabalho.
«Só o tomar consciência do seu estado já ajuda. É meio caminho andado», adiantou.
O objectivo é que a pessoa vá observando a sua mudança refletida no comportamento do cavalo, para que, no final das sessões, esteja como pretende (curada).
Stress, toxicodependência, hiperatividade são algumas das áreas em que a atividade terapêutica com os cavalos tem demonstrado bons resultados, assegura a terapeuta, adiantando que agora a técnica se estende às empresas, num momento de particular tensão laboral.
A ideia – que há vários anos se aplica nos Estados Unidos, França e outros países europeus – é ajudar a resolver conflitos com os funcionários, demonstrando o que está mal nas equipas através de tarefas que revelam o confronto latente, desenvolvidas com os póneis e cavalos.
Na Quinta do Cavalo, em Alcabideche, a agência Lusa assistiu a uma sessão que envolveu duas colegas num escritório, com métodos diferentes de trabalho, sendo uma mais materialista e outra mais emotiva.
A tarefa consistiu em conseguir trazer um dos póneis que se encontrava no meio da manada, uma missão dificultada porque ambas tinham de estar de mãos dadas.
A missão pretendeu revelar que só com um trabalho de equipa, e adaptando-se às características de cada uma, seriam bem-sucedidas, transportando a ideia para a empresa onde trabalham.
Outro exercício destinava-se a melhorar a liderança e desenvolveu-se num redondel, onde o cliente se defronta com um cavalo e tenta levá-lo a desempenhar funções.
A reacção do cavalo vai dizer-lhe que tipo de líder é: «Podemos ter um cavalo completamente apático, e a pessoa vai-se dar conta de que a sua dinâmica de liderança não é muito clara, ou vamos ter um cavalo que galopa muito assustado e a pessoa apercebe-se que a sua dinâmica de liderança pode ser até violenta».
Na Quinta do Cavalo vivem cinco póneis (Cinderela, Obelix, Duquesa, Cacau e Ulisses) e quatro cavalos (Meiguinho, Turquesa, Latin e Samarra) em família e em liberdade.
O objectivo deste modo de vida é facilitar a criação de «laços familiares, o que permite que estejam totalmente disponíveis para o trabalho terapêutico».
«É mais fácil fazer terapia com animais do que estar com um terapeuta fechado entre quatro paredes. É uma dinâmica mais engraçada, mais vivencial», adiantou Nathalie Durel.
Os terapeutas aproveitam o facto de os equinos gostarem bastante da interligação com os humanos: «Os cavalos não se ensinam», garantiu à Lusa o tratador Pedro Amado Gomes.
No final de um exercício, explicou Pedro Amado Gomes, só se obtém bons resultados após «um estabelecimento de respeito»: «Nós somos os líderes e eles liderados por nós, mas não existe imposição. Há um factor natural de estarmos de semelhante para semelhante, para adquirirmos deles o que nos dão neste método», adiantou.
Este método (coaching) assistido por cavalos e reconhecido pela Escola Nacional de Equitação surpreende quem a ele se sujeita e Nathalie acredita que poderá conseguir bons resultados, até com políticos.
«Acho que eles [os políticos] iriam aprender alguma coisa com os cavalos. Seria uma experiência muito interessante para todos».