Golegã – XXVIII Feira Nacional do Cavalo (37)
BREVES COMENTÁRIOSEngº José CanelasA Feira Nacional da Golegã data de meados do século XXVIII e durante algum tempo foi uma feira de equinos, desde o cavalo, mula e burro que eram os animais de trabalho naqueles tempos.É evidente que começaram a desaparecer o burro e a mula e ficaram os cavalos. Tivemos depois que em determinada altura, um Presidente da Câmara que era um médico veterinário, o Dr. Carlos Veiga que sentiu que começara haver um interesse no cavalo ligado ao desporto. Entretanto o cavalo deixou de ser um animal útil só para servir, pois antigamente, as éguas eram montadas ou serviam para trabalhar no debulhar das favas e isso era uma selecção pois como tinham que andar à volta, a que andava mais, que era a da ponta era a melhor.Depois houve uma altura crítica em que as pessoas, deixaram de montar e iam só à feira, o fato, no cabide e o cavalo na mangedoura durante o ano. Quando depois quando chegava a altura da feira era tudo feito à pressa, e o cavalo como não tinha arranjo nem ensino, batia com as mãos no chão, ceifava e existia aquele termo "e que grande braçalhada que o cavalo tem", o que era terrível, porque era uma selecção feita pela negativa. Como se sabe, já nos tempos antigos até houve em Inglaterra quem escolhesse cavalos da Península com movimentos menos arredondados para fazer as suas coudelarias produzindo bons cavalos para a caça e que galopavam bem.O Dr. Carlos Veiga conseguiu com o apoio de várias pessoas no Governo que a Feira de S.Martinho fosse transformada na Feira Nacional do Cavalo.Depois seguiu-se o período de interregno pós 25 de Abril, Aí um grande Homem de cavalos Fernando Sommer de Andrade teve pena de ver a Feira morrer e agarrou-se a ela pedindo nessa altura a minha colaboração na reestruturação da mesma e chegamos à conclusão que realmente poderia haver cavalos de desporto, de criadores, que potenciais clientes vissem na Feira e os comprassem. Daí surgiu a ideia de fazer durante a feira provas de dressage, saltos de obstáculos, atrelagem, concurso completo e raides para que potenciais compradores possam ver esses cavalos actuar. Esta medida foi a grande alteração da Feira nos últimos anos.Actualmente temos um novo Presidente da Câmara, o Dr. José Veiga Maltez, que é uma pessoa ligada ao cavalo, criador de cavalos e gosta de montar a cavalo. Tem procurado e feito realmente uma significativa acção dentro da Feira. A título de exemplo basta dizer, que recentemente tive que falar com ele, estando como Presidente há 15 dias, e quando fui à Câmara, disse-me a secretária, (que tinha sido secretária da anterior Câmara) "Olhe o Sr.Presidente nestes 15 dias já viu mais gente que o outro Presidente em oito anos". É realmente uma pessoa que se interessa, que anda pela Golegã, que não está enfiado no gabinete, conversa com as pessoas e houve opiniões.Este ano houve sorte pois São Martinho reservou-nos o Verão para os dias da Feira o que fez com que a afluência fosse muito grande.Houve várias provas hípicas, e existiu a preocupação de chamar a atenção para o cavalo de desporto. Como exemplo, fizemos durante a Feira uma chamada de atenção para a excelente actuação de Francisca Chaves Ramos com Carioca, cavalo nacional de 14 anos no recente CCE de Pau (FRA). Um facto inédito, pois normalmente um cavalo com 14 anos em Portugal ou já não existe ou é considerado velho porque foi usado e abusado durante a sua curta vida.
É evidente que há sempre situações a corrigir na Feira e nós temos defendido um pouco o conceito que o cavalo Lusitano não se deve minimizar por várias razões, porque representa uma raça Nacional, representa um valor de venda apreciável para nós, e é lógico que é mais fácil aparecer em Portugal um bom Lusitano do que aparecer um bom P.S.I. como acontece em Inglaterra, França etc. mas é necessário criar este espirito cada vez mais nas pessoas.As provas de campo disputaram-se bem, há uma prova que tem o nome do meu filho (Prova Jorge Canelas), foi criada há uns anos porque eu tentei arrastar para o campo uma série de gente que não estava habituada ao campo, desde cavaleiros de obstáculos a raidistas. Na Golegã é difícil manter as provas de campo porque há uma altura em que os campos estão todos cultivados de milho e nós não sabemos onde é que vamos montar a prova, só quando o milho é cortado é que vamos ver o local, portanto muitas vezes não se podem repetir os obstáculos dos anos anteriores.Houve talvez este ano uma afluência de cavalos demasiado grande principalmente Lusitanos, o que vai fazer com que possivelmente o regulamento das várias provas seja revisto, porque na Golegã deveria haver uma maior selecção para que só aparecessem os melhores cavalos, e este ano apareceu de tudo, bons e maus exemplares. Isto faz com que as provas se arrastem por muito tempo, o júri estafado e cansado de estar a seleccionar cavalos. Por sugestão da Associação Portuguesa de Raças Selectas e para corrigir esta situação vai haver uma reunião com a direcção da Comissão da Feira para se pensar como restruturar a fim de se evitarem os "quid pro quos" que ocorreram durante a Feira.