A condução em obstáculos
por: Cor. Netto de AlmeidaOs grandes problemas que se põem ao cavaleiro que tem que conduzir o seu cavalo ao longo de um percurso são:• Alargar sem que o cavalo se desequilibre;• Encurtar sem que o cavalo perca impulsão.• Voltar com o cavalo direito, que é o assunto de que vou tratar aqui.Para que estas condições sejam possíveis é preciso que o cavaleiro conduza o seu cavalo num galope em que ele esteja descontraído e em que lhe seja fácil encurtar ou alongar o galope: galope de qualidade. Este galope é muito pouco susceptível de variar no princípio do trabalho do cavalo, e só com um trabalho bem conduzido sobre o plano vai sendo susceptível de variação. E este trabalho sobre o plano tem que ser conduzido segundo os princípios da chamada equitação académica, de modo a ter os cavalos “sobre a mão”, descontraídos e prontos a “fecharem-se” a pedido do cavaleiro.Como, na resposta aos problemas que são focados nas alíneas mencionadas acima, é, fundamentalmente, de “equilíbrio” que se trata, há que ter em muita atenção a afirmação, 100% verídica, de que” só o cavalo direito pode estar equilibrado, e trabalhar no sentido de procurar endireitar o cavalo, isto é, tornar possível que o cavalo se desloque com facilidade com as espáduas à frente da garupa e se deixe endireitar (isto é, tomar essa posição) sempre que o cavaleiro lho pede.Dizer que não há “cavalos direitos” é uma constatação tão velha como a equitação: todos têm a garupa a deslocar-se com maior facilidade para um lado do que para o outro. E servem-se disso para lançarem o peso (desequilibrarem-se) sobre a espádua do lado contrário daquele para onde lhes é fácil fugirem com a garupa. Por isso voltam com maior facilidade para um lado do que para o outro. Mas o lado fácil é aquele cuja espádua sobrecarregam e, portanto, é aquele para onde se desequilibram, com mais facilidade. E é esta a dificuldade da questão.E posta esta introdução, vamos estudar casos concretos. Partamos do princípio que estamos a montar um cavalo que tem mais facilidade em se encurvar à direita, isto é, tem, normalmente a garupa na direita (e, portanto, quer pesar na espádua esquerda) e que, no meio de um percurso queremos efectuar uma volta para a esquerda.Temos que considerar duas hipóteses: ou o nosso cavalo está já bem “arranjado” (e portanto deixa-se encurvar com relativa facilidade para ambos os lados) ou é um cavalo que ainda tem muito que aprender (e portanto ainda descai muito nas voltas). Considero um cavalo bem arranjado aquele que executa com facilidade uma espádua adentro ou mesmo um ladear. Se isto ainda não acontece temos que o classificar como tendo ainda muito a aprender.
1. Cavalo bem arranjado (já pouco torto): não vai descair para a esquerda ou vai descair pouco, pelo que podemos executar a volta com ele encurvado à esquerda, e, se descair, é fácil corrigir o erro com a rédea de dentro (esquerda, ajudada pela direita) atirando as espáduas para fora. Na foto ao lado temos Marcus Fuchs numa muito boa volta para a esquerda. É pena a foto ter sido apanhada num momento de volta muito apertada, pelo que o cavalo está demasiado inclinado para dentro, portanto em desequilíbrio lateral. Por esta razão é desejável que os cavalos façam as voltas com o corpo o mais próximo possível da vertical.2. Cavalo que ainda tem muito a aprender (ainda muito torto): vai, de certeza, descair para dentro (esquerda), mas eu não posso aplicar as mesmas ajudas indicadas acima pois ele vai resistir muito e até é natural que se vá “ficar” perdendo impulsão. Tenho que o corrigir de outra maneira: com a rédea direita, um pouco aberta que vai ter duas espécies de acção: por um lado “puxa” as espáduas para a direita alargando a volta que o cavalo quer apertar, por outro vai corrigir a posição da garupa (a mão está na posição de directa de oposição) pelo que impede a garupa de “fugir” para o lado direito como que ele quer. E assim com as duas rédeas: a direita, alargando a volta que o cavalo quer apertar, puxando-lhe” as espáduas para a direita e impedindo a garupa de se fixar na direita, e a esquerda regulando a encurvação, á direita, da coluna e o tamanho da volta que o cavaleiro quer fazer, a volta vai sendo executada, sem perda de equilíbrio desde que o cavaleiro consiga manter as espáduas à frente da garupa, na volta.Vamos agora estudar o caso de querermos fazer uma volta para a direita:1. Cavalo bem arranjado (já pouco torto): vamos pedir a execução da volta com a rédea direita, e, com a rédea esquerda a ajudar as espáduas a deslocarem-se para a direita (sem forçar a encurvação neste sentido) pois é esta deslocação das espáduas que é a mais difícil para o nosso cavalo.2. Cavalo que ainda tem muito a aprender (ainda muito torto): vamos fazer a volta com a rédea esquerda (contrária) atirando-lhe as espáduas para a direita (lado difícil) e com a direita ajudar esta deslocação.Em resumo:1. Com cavalos bem arranjados (já pouco tortos) vamos voltar com a encurvação do lado da volta.2. Com cavalos que ainda têm muito que aprender (ainda muito tortos) vamos voltar com a encurvação do lado contrário ao da volta.3. Isto tudo porque o que nos interessa é ter o cavalo, na volta, com as espáduas á frente da garupa, única maneira de o ter sempre equilibrado.Estes considerandos têm uma premissa que é muito importante: o cavaleiro, ao estudar o percurso, tem uma infinidade de hipóteses perante o problema de cada volta. Mas tem que escolher a que lhe é possível de executar com o cavalo que monta. Não pode embarcar em fantasias e escolher uma hipótese que o seu cavalo não é capaz de executar, pois não disputa quem quer mas apenas quem pode.2011.05.18