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Cavalos CRISPR: a polémica genética do pólo argentino

Os primeiros equinos editados com CRISPR prometem velocidade sobre-humana, mas o desporto do pólo rejeitou-os de imediato. Já a agricultura encara-os de outra forma: como a chave genética para maior produtividade e resiliência.

O Campeonato Argentino Abierto de Polo, conhecido como El Abierto, é o maior torneio interclubes do mundo. Nesse palco de tradição, a ciência surge como uma força disruptiva. Na planície pampeana, onde cavalos de elite são criados como obras de arte vivas, uma nova geração ameaça romper a harmonia entre sangue e seleção.

São descendentes de Pólo Pureza, um cavalo campeão, replicado e reconfigurado geneticamente. A alteração crucial está no gene da miostatina, que regula o crescimento muscular. O objetivo: animais idênticos ao original, mas biologicamente otimizados para galopar mais rápido do que nunca.

À primeira vista, parecem cavalos comuns, de pelagem castanha. Mas segundo cientistas, são os primeiros poldros do mundo editados geneticamente com CRISPR-Cas9 — técnica que permite inserir, remover ou alterar segmentos de DNA. Criados pela Kheiron Biotech, em Buenos Aires, nasceram após a edição de fibroblastos fetais e a implantação dos embriões em éguas receptoras.

O que é o CRISPR-Cas9?

CRISPR-Cas9 é uma ferramenta revolucionária para fazer edições precisas no DNA. Foi descoberta originalmente em bactérias, onde atua como um sistema natural de defesa contra vírus.

Significado do nome: CRISPR vem de Clustered Regularly Interspaced Palindromic Repeats (Repetições Palindrómicas Curtas, Agrupadas e Regularmente Interespaçadas).

Como funciona:

A enzima Cas9 atua como uma tesoura molecular, cortando o DNA num ponto específico.

Um RNA guia (ou “etiqueta”) indica à Cas9 exatamente onde deve cortar.

Processo de edição: Os cientistas podem programar o RNA guia para direcionar a Cas9 a quase qualquer região do DNA. Quando a enzima faz o corte, a própria maquinaria de reparação da célula entra em ação — removendo um fragmento, inserindo novo material ou “silenciando” o gene.

Aplicações:

Desativar genes nocivos (por exemplo, silenciar mutações causadoras de doenças).

Corrigir doenças genéticas (já foi usado experimentalmente para corrigir mutações no gene HBB, responsável pela β-talassemia).

Criar plantas e animais com novas características.

Em resumo, o CRISPR-Cas9 permite aos cientistas editar o genoma com uma rapidez, precisão e flexibilidade sem precedentes.

Reações
A resposta do pólo foi imediata: a Associação Argentina de Pólo proibiu formalmente o uso desses animais em competições. A decisão segue a linha da Federação Equestre Internacional, que em 2019 vetou modificações genéticas.

Fonte: Daily Mail.