Personalidade do Mês: Miguel Faria Leal
Um cavaleiro clássico e estilista, Miguel Faria Leal, que sofreu um grave acidente quando treinava um poldro de 6 anos em casa, regressa agora à alta competição.
Em entrevista exclusiva ao Portal Equisport, Miguel fala sobre o drama que viveu, conta como foi o acidente e garante que está de volta para vencer.
EQ: Agora que as coisas estão mais tranquilas, quer contar como foi o acidente?
MFL: O acidente aconteceu a 7 de Agosto de 2007. Vinha de saltar no Internacional de Dinard com duas éguas novas, a Naomi 150 e a Ouverture 4, que me deram uma enorme satisfação. Resolvi por em marcha um cavalo de 6 anos que tinha em casa e que estava um pouco atrasado. Montei um percurso, e depois tentei fazer a barrage. Caí e parti a tíbia e o tornozelo direito.
EQ: Como foi a sua recuperação?
MFL: A minha recuperação foi muito lenta! A fractura não pôs grande problema: fui operado e estive dois meses com gesso. O problema surgiu quando retirei o gesso. Fiz uma flebite que me ocupou 95% das veias da perna direita. Como resultado, tive de fazer imobilização total e 10 meses de anticoagulantes. Só em Janeiro de 2009 pude retirar os parafusos e recomeçar uma vida normal, embora tenha que usar uma meia elástica de compressão na perna direita pois as válvulas não funcionam normalmente.
EQ: O que aconteceu aos seus cavalos durante a sua recuperação?
MFL: Claro que foi muito complicado. Tinha cerca de 10 cavalos de diferentes proprietários e que não podiam ficar um ano e meio sem sair em concurso! Esses cavalos foram entregues a outros cavaleiros. Os mais novos continuam a trabalhar com a Mathilde, minha mulher, o meu cavaleiro e alguns com os meus alunos.
A Ouverture, na qual depositava muitas esperanças, teve de ser vendida à minha aluna a amazona espanhola Ainhoa Manero, depois de tentar arranjar um co-proprietário sem sucesso. Sei que recentemente o conjunto ficou em 10º no Pequeno Grande Prémio da Rota do Sol (15/02/09) e em 5º lugar no Grande Prémio do CSI2* de Barcelona (14/12/2008). No Grande Prémio do CSI4* do Vimeiro fez zero pontos na primeira mão e disputou a barrage, entre outros resultados de grande mérito.
EQ: Como é actualmente o seu dia-a-dia em França?
MFL: Pois… é recomeçar de novo! Tenho uma “Ecurie” que tem gastos bastante elevados (30 boxes, 6 empregados, etc. etc.) e embora tenham passado 18 meses nos quais não podia montar nem viajar para ver concursos ou fazer estágios, as infraestruturas permitiram-me recuperar os estágios que fazia e tento pôr-me a cavalo correctamente.
EQ: Qual foi o evento que marcou o seu regresso à alta competição?
MFL: Encontrei um cavalo de 9 anos Winfield, bastante prometedor que me foi confiado por um amigo. É um inteiro filho do “Amino” que só fez percursos de 1,20m e com o qual debutei recentemente no CSI3* de Villeneuve Loubet, França.
EQ: Quais são os seus principais objectivos para 2009?
MFL: Sem a Ouverture não penso ter cavalo para o Campeonato da Europa. Vou pôr o Winfield em marcha, tentar recuperar uma posição no ranking mundial e pensar no Campeonato da Europa de 2011, porque não os Jogos Olímpicos de 2012!
EQ: Conte mais sobre os seus novos cavalos…
MFL: Além do Winfield, estou a montar o Max du Vieux Moulin, que o João Carlos Domingos me confiou para comercializar, ou alternativamente tentar levá-lo a um nível para fazer competições com a sua filha Carolina. O “Lancaster”, propriedade de Francisco Geraldes, que, como eu também esteve lesionado, e está a recomeçar uma vida desportiva além de outros cavalos novos que vêem de outras Ecuries.
EQ: Quais são os cavalos que vão saltar no Circuito Equestre de Vilamoura e qual deles é o seu preferido?
MFL: Talvez o Winfield, embora ainda não seja competitivo, ou o Max, precisamente por ser um cavalo de concurso.
EQ: Qual foi o seu momento especial no hipismo?
MFL: Existiram vários momentos especiais: conquistar a Taça das Nações em Lisboa, o 2º lugar no Derby e a despedida do CSIO de Aachen (Alemanha), foram momentos de grande emoção.
EQ: Acha que o treino do cavalo de saltos tem mudado consoante o tipo e a raça do cavalo?
MFL: Acho que sim, bastante, cada vez mais a técnica vem ao de cima, cada vez mais necessitamos de cavalos sensíveis e rápidos, o que os diferentes Stud Books estão a conseguir produzir. Assim, a equitação tem vindo a progredir e a sensibilidade do cavaleiro cada vez mais é recompensada!
EQ: Na sua opinião que importância atribui ao ensino, e que tipo de ensino recomenda para o cavalo de saltos?
MFL: A importância do ensino é fundamental. Um cavalo calmo, direito e para diante, como preconizava o mestre Nuno Oliveira, é cada vez mais verdade, pois vamos no sentido do estilo de cavalo necessário na competição moderna. Este é um cavalo sensível e reactivo, pois sem calma, é impossível canalizá-lo e dar-lhe tempo para utilizar o seu poder. Aprecio muito o método de Bertalan de Nemethy, que eu penso adaptar-se perfeitamente à equitação moderna.
EQ: Participa em provas há mais de 20 anos – continua achar a modalidade um desafio, ou simplesmente um emprego?
MFL: É um desafio constante, e a prova é que Michel Robert aos 60 anos ganha o Top-Ten! Para ter uma boa performance é necessário ter gosto, ser exigente e ao mesmo tempo contentar-se com todos os passos, mesmo os mais pequenos.
EQ: Qual o cavaleiro da actualidade que mais admira, e porquê?
MFL: Admiro o sucesso de Michel Robert, a sensibilidade de Meredith e a precisão de Ludger Beerbaum.
EQ: Que “dica” daria aos mais jovens?
MFL: Quem quiser chegar ao mais alto nível da Equitação terá que observar os cavaleiros de topo que trabalham com esse objectivo, na submissão e na descontracção de todo o corpo do cavalo. Recomendo aos mais jovens que sejam abertos às novas experiências dos cavaleiros mais experientes, e atentos aos diferentes métodos, sem os confundir.
EQ: Pretende representar Portugal em 2009?
MFL: Penso que a partir da metade da época podem contar comigo!
PERFIL
Nome completo: António Miguel Santa Marta de Faria Leal
Data de Nascimento: 10 de Março de 1961
Local de Nascimento: Lisboa
Um ídolo: Francisco Lobo Guedes
Um passatempo: Brincar com as minhas filhas, Lua Maria (2 anos) e Ana Maria (15 anos).
Se não fosse cavaleiro, seria: Rico…
Uma qualidade: Observador
Um defeito: Pouco paciente com as pessoas.
Um livro: Bertalan de Nemety Method
Um filme: Regresso ao Futuro
Uma actriz: Sharon Stone
Um estilo musical: Rock
Um carro: Audi A6
À Mesa : Cozinha tradicional portuguesa
Lugar que gostaria de conhecer: Austrália
Uma mania: Ordem e disciplina.